O autor alagoano Magno Almeida publicou o seu segundo livro, “Composição para além-vértebras”, onde trata sobre temas como a composição de poemas e as descobertas sexuais. Na verdade, a impressão que tive é que os temas, apesar de relevantes, são apenas um pano de fundo para algo bem mais profundo: o que o poeta parece tentar fazer é pincelar reflexões acerca da realidade e do fazer poético. Ele tenta escancarar, desse modo, as vértebras para além do material de composição. Por meio de imagens cotidianas, as vozes líricas presentes nos poemas de Magno Almeida são lançadas, meio que de maneira súbita, em reflexões existenciais, tirando-as do torpor da rotina.
Outro ponto interessante é o uso consciente das inúmeras referências que o poeta faz em sua obra. Nenhuma delas me pareceu estar ali apenas como uma forma de mostrar bagagem de conhecimento, e sim para fazer crescer mais ramos de significados, o que torna mais complexo o trabalho de Almeida. Quanto às referências, elas passam por vários campos culturais, desde bandas de rock alternativo (a referência ao disco de The Smashing Pumpkins é bem divertida) a poetas consagrados na nossa literatura, como Ana Cristina César e Ferreira Gullar.
“Composição para além-vértebras” é uma obra interessante de um poeta que merece ser mais conhecido. Isso me faz pensar que às vezes, distraídos em meio a tantos outros poetas famosos, acabamos perdendo a chance de nos depararmos com surpresas tão boas como essa.
AUSÊNCIA OU CORPO-NINGUÉM
balbuciar
grunhir
emitir qualquer som
assemelhando
chamamento
um animal pré-histórico
um cão atropelado
ruína
intuição:
corpo-ninguém